PRESENTE DO INDICATIVO
(Expressa o fato no momento em que se fala)
A solidão é moeda de duas caras: o passado e o presente.
Nunca me acostumei com o presente.
Com o passado - vá lá! - tenho que me acostumar com ele,
visto que não tenho outro passado que não o meu.
Mas, com o presente?
Com o presente não consigo me acostumar.
O presente é muito perto. É muito curto.
Mal se experimenta e ele já se torna passado,
quase instantaneamente! Verbo freqüentativo.
Criei uma casca, um entre parênteses,
feito ostra, que me protege do presente
e isola-me dele, feito roupa de borracha
para mergulho em águas geladas.
Mas, não vivo do passado também.
Não! Vivo do futuro. Vivo de fantasia.
Sou ator e o teatro me deu isso
de presente para usar todos os dias.
A realidade cotidiana para mim
se compõe no futuro do pretérito.
Assim, para mim, os fatos futuros
se me apresentam sempre como que
relacionados a fatos acontecidos no passado
e, portanto, já meus conhecidos.
Eles,
os fatos presentes,
teimam em ir buscar raízes lá, no meu passado.
E isto é tormenta, é cabresto, é limite,
é fronteira intransponível, como os verbos intransitivos.
Quando faço aniversário, por exemplo,
relaciono o futuro, aquilo que virá ainda,
com o que já foi em todos os outros anos
passados e engomados.
Profetizo, na véspera da minha data natalícia,
que, a partir dali tudo será como foi antes,
nos outros anos corridos e engavetados:
Pretérito perfeito:
ficarei feliz, ficarei mais velho, ficarei sozinho.
O pretérito mais-que-perfeito
é um tempo verbal que se refere
ao passado do passado.
Enéas Lour
13 de outubro de 2011.
2 comentários:
LOURDES. Texto lindyssimo! E real. Um super parabéns adiantado. Muita saúde, sabedoria e coragem! Quer dizer, coragem não, pq coragem não te falta!!!!!;)kkk
BEIJOSSSS
Que bonito Enéas! Parabéns!
Bj
Vanu
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