ENÉAS LOUR É ATOR, DRAMATURGO, CENÓGRAFO E DIRETOR TEATRAL

24 de out. de 2011

MEUS OLHOS ESTÃO DEGRINGOLADOS





Por Valmir Santos

A Súbita Companhia de Teatro
ergue uma cena francamente verborrágica sobre o indizível.

A palavra é veemente desde o título:
Meus Olhos Estão Degringolados
adaptação da diretora Maíra Lour para texto
do romancista americano Jonathan Safren Foer.

O verbo também está no coração da vida incomum
de um casal sob o mesmo teto,
partilhando a mesma máquina de escrever
e separados por muros, corredores,
demarcações territoriais de “algo” e “nada”
equilibrados segundo as convenções
desse homem e dessa mulher,
trazidos à cena por Otavio Linhares e Janaina Matter.

Os signos constitutivos da linguagem
os fazem suportar um ao outro.
Seria, grosso modo, a evolução de uma história de amor,
sua ascensão e queda.

A compressão temporal e espacial
é feita de falas curtas, numa espiral de exasperação dele, escritor estancado, diante do talento dela ao jorrar e apropriar-se do mesmo ofício.

A cena trata dessa perpendicular de duas pessoas
desmagnetizadas aos poucos, ampliando as distâncias.

No espaço austero da encenação,
linhas e embaraçamentos geográficos traduzem
as inquietações em movimentos, gestos e ações dos atores,
fluídos e interrompidos.

À tessitura da palavra soma-se o vocabulário da luz
(sombras narradoras de situações íntimas, por Daniele Régis)
e da música como exceção ao silêncio dominante
(o acordeão irrompendo com a dolência de Edith de Camargo).

Toda separação precipita sua sinfonia.

Postado por Mostra Cena Breve Curitiba

13 de out. de 2011

AMANHÃ É MEU ANOVERSÁRIO


PRESENTE DO INDICATIVO

(Expressa o fato no momento em que se fala)

 
A solidão é moeda de duas caras: o passado e o presente.

Nunca me acostumei com o presente.
Com o passado - vá lá! - tenho que me acostumar com ele,
visto que não tenho outro passado que não o meu.
Mas, com o presente?
Com o presente não consigo me acostumar.

O presente é muito perto. É muito curto.
Mal se experimenta e ele já se torna passado,
quase instantaneamente! Verbo freqüentativo.

Criei uma casca, um entre parênteses,
feito ostra, que me protege do presente
e isola-me dele, feito roupa de borracha
para mergulho em águas geladas.

Mas, não vivo do passado também.
Não! Vivo do futuro. Vivo de fantasia.

Sou ator e o teatro me deu isso
de presente para usar todos os dias.

A realidade cotidiana para mim
se compõe no futuro do pretérito.

Assim, para mim, os fatos futuros
se me apresentam sempre como que
relacionados a fatos acontecidos no passado
e, portanto, já meus conhecidos.

Eles,
os fatos presentes,
teimam em ir buscar raízes lá, no meu passado.
E isto é tormenta, é cabresto, é limite,
é fronteira intransponível, como os verbos intransitivos.

Quando faço aniversário, por exemplo,
relaciono o futuro, aquilo que virá ainda,
com o que já foi em todos os outros anos
passados e engomados.

Profetizo, na véspera da minha data natalícia,
que, a partir dali tudo será como foi antes,
nos outros anos corridos e engavetados:

Pretérito perfeito:
ficarei feliz, ficarei mais velho, ficarei sozinho.

O pretérito mais-que-perfeito
é um tempo verbal que se refere
ao passado do passado.

Enéas Lour
13 de outubro de 2011.

10 de out. de 2011

"Otto e Maria" Novo texto de Enéas Lour


Fui selecionado no Edital Oraci Gemba 2011 
- Novas Dramaturgias -
da Fundação Cultural de Curitiba
e estou escrevendo o texto de uma nova peça teatral
intitulada "Otto e Maria".
Tenho até julho de 2012 para entregar o texto original
para a publicação pela FCC.
Estou na fase de pequisa sobre o tema.
Uma estória de amor entre o filho de um poderoso senhor
de origem germânica filiado ao Partido Nazista
e uma mulher brasileira
nos anos da Segunda Guerra Mundial, em Curitiba.

Abaixo vão alumas fotos que coletei na pesquisa.








Há muito tempo as peças teatrais de minha autoria
têm como foco principal de narrativa a História da cidade de Curitiba.

Esta característica de minha produção dramatúrgica inicia-se
com criação da peça TRECENTINA, em 1994,
numa parceria autoral com Mário Schoemberger.

Naquela peça a cidade de Curitiba,
prestes a completar 300 anos de fundação
era a “principal personagem”.

Pesquisamos a história de nossa cidade e
com um grupo de 11 atores criamos uma obra satírica que,
devido ao seu grande sucesso de público e de crítica,
oportunizou a criação e encenação de mais três novas versões
desta obra intituladas:
Trecentina II (1995), 3centina (1997) e Trecentina 500 (2000).

Para a historiadora e professora Marta Moraes
e o pesquisador Ignácio Dotto Neto,
autores do livro “CONTRA CENA - O TEATRO EM CURITIBA”,
a peça “Trecentina” mudou o panorama da comédia em Curitiba.

Antes disso eu já havia pesquisado a História do Paraná,
como tema da minha peça “Pinha, Pinhão, Pinheiro”,
pela qual recebi o Prêmio Governador do Estado em 1985.

Em 2008 escrevi o texto
“Hanna Kowalick, A Bruxa De Curitiba”
no qual, mais uma vez abordo a temática da história de nossa cidade
no período de 1884 até 1903.
Por este texto recebi o Prêmio Oraci Gemba
de Fomento à Dramaturgia, da FCC / 2008.

Assim, apresento como justificativa
para a execução deste meu novo projeto,
a importância de que se reveste o incentivo
do poder público municipal aos dramaturgos,
para a realização de pesquisas e criação de textos,
em especial àquelas obras que promovam o resgate histórico.

Minha intenção com o projeto “Otto e Maria”
é justamente esta, qual seja:
pesquisar e criar um texto teatral que traga à cena
uma história ficcional baseada em fatos reais ocorridos em nossa cidade.

No caso desse novo projeto:
uma história de amor entre um jovem de descendência germânica,
filho de um influente cidadão curitibano que,
na época da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945),
era adepto do pensamento nazista,
como de fato houve muitos cidadãos curitibanos
que apoiaram Hitler naquela época,
conforme pesquisa que realizamos junto ao Arquivo Público
e outras fontes bibliográficas.

Este rapaz – Otto - se apaixona por uma moça brasileira
não “ariana” chamada Maria.

Evidentemente meu texto não proclama, de nenhuma maneira,
a ideologia nazista, ao contrário,
a contesta veementemente quando expõe sua completa sandice.

Nossa intenção enquanto dramaturgo
limita-se ao registro histórico de alguns fatos
realmente acontecidos naquela época em nossa cidade,
acrescendo a trama com elementos ficcionais,
sem qualquer pregação doutrinária, política ou filosófica.

Enéas Lour
Outubro / 2011