MEUS OLHOS ESTÃO DEGRINGOLADOS
Por Valmir Santos
A Súbita Companhia de Teatro
ergue uma cena francamente verborrágica sobre o indizível.
A palavra é veemente desde o título:
Meus Olhos Estão Degringolados
adaptação da diretora Maíra Lour para texto
do romancista americano Jonathan Safren Foer.
O verbo também está no coração da vida incomum
de um casal sob o mesmo teto,
partilhando a mesma máquina de escrever
e separados por muros, corredores,
demarcações territoriais de “algo” e “nada”
equilibrados segundo as convenções
desse homem e dessa mulher,
trazidos à cena por Otavio Linhares e Janaina Matter.
Os signos constitutivos da linguagem
os fazem suportar um ao outro.
Seria, grosso modo, a evolução de uma história de amor,
sua ascensão e queda.
A compressão temporal e espacial
é feita de falas curtas, numa espiral de exasperação dele, escritor estancado, diante do talento dela ao jorrar e apropriar-se do mesmo ofício.
A cena trata dessa perpendicular de duas pessoas
desmagnetizadas aos poucos, ampliando as distâncias.
No espaço austero da encenação,
linhas e embaraçamentos geográficos traduzem
as inquietações em movimentos, gestos e ações dos atores,
fluídos e interrompidos.
À tessitura da palavra soma-se o vocabulário da luz
(sombras narradoras de situações íntimas, por Daniele Régis)
e da música como exceção ao silêncio dominante
(o acordeão irrompendo com a dolência de Edith de Camargo).
Toda separação precipita sua sinfonia.
Postado por Mostra Cena Breve Curitiba
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