ENÉAS LOUR É ATOR, DRAMATURGO, CENÓGRAFO E DIRETOR TEATRAL

8 de jul. de 2010

JUVENTUDE



Pegue um dia qualquer da sua vida, 
pode ser um dia de chuva ou não, 
no outono ou no inverno, 
qualquer dia, 
desde que seja depois de que você tenha 40 anos 
e tenha filhos.

Pegue este dia e ponha seu filho sentado ao seu lado, 
na sala ou debaixo de uma árvore, 
no sótão ou na praia ao lado do velho barco
cheio de cicatrizes de areia.
Olhe para o seu filho e diga-lhe que ele não é imortal. 
Diga a ele que a vida desliza pelo tempo 
e que o Papa vai morrer, 
que Madonna vai morrer, 
assim como John Lenon morreu 
e que morreremos todos, um dia.

Diga que é verdade que a vida é eterna, mas,
com outros personagens 
que se substituem à cada cena 
que passa pelos anos. 
Diga que você vê nele 
- e através dele - 
um túnel que leva a um futuro 
que você nunca vai alcançar e nem ele. 

Diga que quando os homens
finalmente descerem em Marte, 
um outro, que não você e nem ele, 
descerá da escada da nave 
e colocará o pé sobre aquela longínqua areia vermelha, 

Diga que o poeta e astrônomo persa
Omar Kayhan
estava certo em seu Rubayat e que 
"a efêmera suavidade da vida, do amor e do prazer, 
são tudo o que nos resta 
e tudo o que nos devia interessar 
nesta curta jornada da vida".

Talvez ele não acredite em você,
ou melhor: certamente ele não acreditará em você
porque em seus olhos a luz cegante da juventude 
ainda brilha tão forte
que o impede de ver o mundo 
com seus minutos galopantes 
e suas horas disparadas. 

Mas, mesmo assim,  
você lhe terá dito tudo 
o que um pai tem a dizer a um filho.


E, depois de alguns anos, 
talvez sob o teto de uma outra casa 
que estará sob esta mesma lua 
que hoje viaja conosco, 
ele dirá ao seu neto 
o que aprendeu com você nesse dia.


Enéas Lour

2 comentários:

Unknown disse...

Lindo esse texto Enéas!! To aqui enxugando minhas lágrimas ainda... acho que é por isso que quem é novo não acredita que vai morrer, pra nao ter esse baque, e nao ficar desconcertado ou abalado. Concordo total total com vc de que o pai deve passar isso pro filho, pra já entender e aceitar essa única certeza: a morte.
Sempre to aqui vendo seus posts, é uma das coisas da internet que eu sempre lembro e adoro ler!
Obrigada por tudinho!!
Beijos da Calourinha =)

Simone Nercolini disse...

Lindíssimo. :)