HOMENAGEM
por Roberto Vieira
Adeus, Zilda Arns: a morte dos anjos
Em certos momentos fica difícil acreditar em Deus.
Como pode um Deus permitir tanta miséria?
Melhor ser ateu.
Um ateu destes que gostariam muito
de acreditar em alguma coisa.
Um ateu rezando para estar errado.
Pois não é que hoje morreu um anjo!
Um anjo pediatra.
De sorriso lindo.
Um sorriso, me desculpem o trocadilho, angelical.
A primeira vez que vi tal sorriso foi em 1973,
na capa de uma revista esportiva
que trazia estampada o novo Cardeal de São Paulo.
Eu estudava em colégio de padre.
Onde o diretor não sorria nem deixava sorrir.
Imaginem minha surpresa!
Um cardeal de riso aberto na revista.
Com uma bandeira do Corinthians!
...
Descobri com o tempo que o sorriso daquele cardeal
era do mais puro aço inoxidável.
Imprescindível.
Inestimável.
Dom Paulo Evaristo Arns era feito de pedra e sentimento.
Um anjo na Sé.
...
Anos depois conheci a Zilda.
Crianças no colo.
Amor pra dar sem vender.
O mesmo sorriso do irmão.
Um sorriso de Forquilhinha.
...
Quis o destino. Deus?
Levar desta terra a bela pastora.
Esse Deus que quer todos os sorrisos para si.
Pois, Deus, se é que você existe mesmo,
guarda bem este anjo que hoje se foi
quando ajudava tantos anjos numa terra
de miséria sem fim!
Guarda bem esse anjo, Deus,
pois a Terra ficou mais vazia no dia de hoje.
E o Céu, se é que o céu existe mesmo,
o Céu ficou mais azul.
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